El Salvador é um pequeno país da América Central conhecida no mundo do surf como o “Paraíso das Direitas”, e a jóia da coroa é a praia de Sunzal, na região de La Libertad – um point-break extenso, que roda por 300 metros, sobre um fundo de pedras, abrindo uma das melhores direitas do mundo, como pode ser visto na bela panorâmica abaixo.
Incentivado por um grupo de amigos de infância, da época do Primário do Colégio Santo Inácio, e também surfistas, que estavam programando uma surf trip para Sunzal, acabei seduzido, e em Março de 2018 embarquei para este paraíso do surf mundial, na companhia dos amigos Claudio Pastor, Antônio Carlos Rocha, Luiz “Luca” Fernando Cunha e Gerson Schlobach de Freitas Junior.
Não é exagero dizer que a semente desta surf trip foi plantada há 50 anos atrás, em 1968 quando ingressei no 1º Ano Primário do Colégio Santo Inácio, uma instituição centenária e tradicional da educação carioca, onde foram criados os laços de amizade que se mantiveram através dos anos. A minha turma sempre se manteve ativa na manutenção do grupo, inicialmente pelos contatos pessoais, depois com a chegada da internet através do Yahoo Grupos e WhatsApp. Todo final de ano a Turma promove uma confraternização com direito a churrasco e pelada no próprio colégio. A foto acima, tirada em 2016 pelo nosso colega e fotógrafo Paulo Camarão, retrata bem a energia positiva destes encontros.
O Colégio Santo Inácio tem tradição no surf carioca, e de suas turmas saíram surfistas e shapers famosos, como Claudio Pastor, Fred D’Orey, Cauli Rodrigues e outros sem a fama porém com excelente surf no pé, como Luca, Beto, Pascoli, Atila e tantos outros.
O primeiro colégio carioca a promover um torneio de surf foi o Santo Inácio, e a primeira competição da nossa turma foi vencida pelo Luca, integrante dessa surf trip a Sunzal. Pastor foi top 3 neste e mais dois outros torneios. Um dos campeonatos teve como quadro de juízes o Pepê Lopes, Daniel Friedman e Cauli Rodrigues.
Este vídeo é do segundo campeonato de surf da turma, que aconteceu em 1975, filmado pelo irmão do Pastor, José Roberto, em Super-8.
Em minha surf trip prévia, ao Peru em 2014, não me condicionei físicamente de forma adequada, e paguei o preço me cansando nas longas remadas daquele país. Então nesta trip tratei de me preparar com antecedência, optando pelo Método Pilates, que alia alongamento e exercício físico. Nessa época o Paulo Camarão comentou que era irmão de uma das pioneiras em trazer o Método Pilates ao Brasil, então, com 3 meses de antecedência eu e o Antônio iniciamos a nossa preparação para a surf trip no Studio Teresa Camarão.
Os últimos detalhes preparatórios da viagem foram discutidos pela turma no Hipódromo da Gávea, ao sabor de sanduíches de filet com queijo e orégano, regado a chopp, coca ou água.
As reservas de nossos quartos foram um tanto quanto atribuladas.. havíamos definido que o hotel seria o Kayu – já conhecido e de frente para o pico – entretanto, devido a várias indefinições em relação a datas, quem iria, gente se recuperando de lesão, outras se lesionando, acabamos deixando para fazer as reservas muito em cima da viagem, e quase não conseguimos ficar todos no mesmo hotel. Mas depois de muitos contatos, e praticamente na véspera da viagem, conseguimos fechar dois quartos excelentes, onde dividimos eu, Pastor e Gerson em um quarto e Antônio e Luca no outro. Nossos quartos ficavam no andar de cima do principal bloco de quartos do hotel, com uma vista privilegiada das ondas. Os quartos eram espaçosos, com 3 camas de casal e ar condicionado, garantindo um bom descanso após as muitas horas de surfe.
O hotel é excelente e eu recomendo para quem for a Sunzal. Localização, estrutura, conforto são algumas das qualidades do hotel, mas eu concluí que o ponto alto é o restaurante! Primeiramente por conta do excelente atendimento. O Cristian, aqui na foto, era quem nos atendia com mais frequência – super simpático, atencioso e divertido – e segundo pela ótima comida, principalmente o café da manhã.
Acordávamos às 5 da manhã para já estarmos dentro d’agua com o nascer do sol e surfávamos por umas 3 a 4 horas antes de tomar nosso café. Voltávamos do surfe varados de fome por volta das 9:00 – 10:00hrs da manhã… dizem que a fome é o melhor molho, mas o fato é que o café da manhã do Kayu é delicioso! E ainda por cima é minha refeição predileta! As fotos descrevem bem como eram.. nós acabávamos comendo dois pratos! E ainda o fazíamos de frente para as ondas! Bem, além disso tudo, a varanda do restaurante era onde ficávamos em vários momentos do dia na resenha, conversando, e também o local facilitava a interação com os outros grupos de surfistas hospedados no hotel.
Uma surf trip em geral envolve um ou mais amigos com histórias e passados distintos, que se convergem por uma paixão em comum – o surf. Nessa viagem os amigos se conheceram na infância, seguiram profissões distintas – um arqueólogo/ agente de viagens, um shaper, um executivo/ consultor de Educação, um médico e eu, um executivo de Supply Chain – porém os laços do Colégio Santo Inácio nos mantiveram em contato e o surf voltou a nos aproximar. A seguir conto um pouco da história desses meus parceiros dessa surf trip.
A história do Claudio Pastor se mistura com a própria história do surf Brasileiro e mundial. Surfista, shaper, designer, treinador de equipe, competidor master, começou a surfar aos 7 anos de idade e aos 15 ficou em 3º lugar no Primeiro Campeonato de Surf do Colégio Santo Inácio. Com 21 anos shapeou sua primeira prancha numa oficina em Itaipava e não parou mais. Pastor venceu o Brasileiro de Longboard em 1990 e após criar a marca By Pastor montou uma equipe de Longboard do Brasil que viria a se tornar a maior equipe vencedora de Longboard Profissional e Amador do Brasil. Em 2004, com o surgimento do Stand Up Paddle o Pastor passa a ser um dos primeiros no país a shapear pranchas de Stand Up, e incorpora essa modalidade à equipe By Pastor.
Hoje, a marca By Pastor é consolidada como referência em pranchas, principalmente Longboard e Stand Up Paddle, sendo que o portfolio também inclui pranchinhas, funboards e modelos especiais, como a minha “fish”. A equipe By Pastor que desde sua criação acumula títulos nacionais, atualmente conta também com três títulos mundiais – um título com Phil Rajzam (Longboard) e dois títulos com Caio Vaz (SUP).
Surfar com o Pastor é um privilégio, além de sempre procurar orientar e dar dicas para os amigos, ele é uma enciclopédia viva do surf e sentar ao seu lado é certeza de ouvir uma história curiosa, engraçada ou interessante do surf brasileiro. Pastor é o nosso “surf legend”!
Certa vez o Pastor comentou comigo “Luca foi o melhor da turma, sempre pegou muito”. Luca começou a surfar aos 8 anos no Posto 6 a poucos metros do Arpoador, berço do surf Carioca, e aos 11 anos ganhou sua primeira prancha de surf, fabricada pela Surfboards São Conrado, do legendário Coronel Parreira.
Sua adolecência incluiu muitas viagens ao Sul – Farol de Santa Marta, Laguna, Guarda, Imbituba, e aos 30 anos começaram as viagens internacionais, trilhando os principais destinos de surf do planeta, como Hawaii, Africa do Sul, Bali, Mentawaii, Peru, Panamá, Costa Rica e, El Salvador.
Luca participou de vários campeonatos de surf, estreando no primeiro da Turma do Santo Inácio. Em 1978 participou nas triagens do Waimeia 5000, competição do circuito mundial que contou com a presença de lendas do surf como Sheyne Horan, Peter Townend e Michael Ho só para citar alguns.
Uma lesão em 2015 o tirou do surf por um ano, e após uma ano de fisioterapia começou a retornar ao surf. Esse período coincidiu com a formação do grupo de surf do CSI no WhatsApp. Hoje Luca é um dos mais animados incentivadores do grupo de surf.
Antônio Carlos Rocha cresceu de frente para a praia, na frente do legendário Pier de Ipanema, e sua primeira experiência com o surf foi aos 14 anos, através da prancha emprestada de um amigo.
Porém o esporte não pegou já que todo fim de semana ele ia com os pais para a fazenda montar cavalos. Montar a cavalo sempre foi seu esporte principal e até hoje participa de campeonatos de salto.
Passaram-se um par de décadas e aos 43 anos o Antônio voltou a surfar sem muita regularidade, até que no final de 2016, no churrasco anual da Turma 78 do Colégio Santo Inácio ouviu um papo da turma se encontrar na Barra pra surfar junto. Decidiu ir e ali encontrou a motivação pra voltar a surfar com mais frequência.
Foi um verão do reencontro com o surf e com colegas que se transformaram em amigos. Quando o assunto da viagem surgiu, Antônio interrompeu sua agenda de competições equestres, e se juntou ao nosso grupo para surfar em Sunzal o que ele qualificou como “as melhores ondas da minha vida”.
Gerson era 1 a 2 anos mais novo do que o resto da turma e ficava assistindo os mais velhos surfando, louco para surfar. Então, aos 15 anos conseguiu convencer a mãe a comprar uma prancha Miçairi de um colega, e assim, em 1978 começou a surfar e nunca mais parou. Hoje o Gerson é um surfista experiente em águas internacionais, já tendo surfado no Hawaii, Bali, California, Costa Rica, e mais recentemente El Salvador.
Gerson é cirurgião geral com especialização em videolaparoscopia e cirurgia bariátrica e procura estar sempre em forma, como trabalha muito não é incomum emendar o surf imediatamente após algum plantão e acaba caindo mesmo cansado, pois do contrário acabaria não surfando.
Originalmente surfista de pranchinha, Gerson adotou o pranchão em 2012 e é conhecido entre nosso grupo como o surfista mais fissurado, primeiro a entrar na água e último a sair, o que faz em geral muito depois do penúltimo a sair. É um dos maiores incentivadores do grupo de surf, sempre chamando uma caída em grupo e empurrando todos para o mar.
Sunzal é realmente um pico espetacular – uma máquina de ondas que não para. Extremamente consistente, é uma onda que corre por 300 metros sobre uma bancada de pedra, garantindo um passeio que pode durar 60 segundos. Fomos bem servidos de ondas todos os 8 dias em El Salvador, sempre acordando cedo para surfar com o raiar do dia e surfando por 3 a 4 horas antes de tomar o café da manhã. E como toda boa surf trip, quem tinha gás dava uma segunda caída no final de tarde, e todos dormiam cedo já sonhando em madrugar para retornar àquela onda maravilhosa!
O tempo médio de surfe em uma onda nas praias do Rio de Janeiro – tempo em pé na prancha – deve variar entre 5 a 10 segundos, e dependendo da praia até menos. Imagine então um pico em que a onda pode levar até 60 segundos!
Isso é Sunzal! Um paraíso em termos de extensão de onda, e esse vídeo do Gerson, filmado com um drone, mostra bem como é uma maravilha esse passeio!
Apesar de ser um pico de uma onda só, Sunzal apresenta variações na ondulação, dependendo da série e de qual local de sua extensão você está surfando.
O outside proporciona na série uma bela parede para um drop de velocidade, levando à zona intermediária que cobre boa parte da sua extensão com uma parede de transição suave, boa para surfistas intermediários a iniciantes. No inside a onda retoma energia quando a massa de água encontra o banco de pedra mais raso, formando uma paredinha afeita à manobras como o cutback, ou até um tubinho, como nos ensina o habilidoso Luca nesse vídeo.
Nessa surf trip tivemos muita ajuda e apoio do casal Allan e Fabi. Allan Gandra, formado em Educação Física, é fotógrafo profissional, agenciador de viagens, técnico e instrutor de surf, e surfa desde os 15 anos de idade. Vencedor de muitos torneios de longboard, ele já foi técnico de atletas dessa modalidade do surf feminino como a Chloé Calmon e a Atalanta Batista, esta última tetra-campeã brasileira de longboard e número 8 do mundo pela WSL, atualmente treinada pelo Pastor. A Fabiana Jaccoud é formada em TI e com MBA em Administração. Apaixonada desde pequena por esportes, Fabi surfa com graça e desenvoltura, se jogando nas maiores ondas das séries sem medo. Fabi é também formada em Hatha Yoga e professa essa disciplina. Allan é profundo conhecedor das ondas de Sunzal, tendo surfado esse pico pela primeira vez em 2014, e desde então já retornou 17 vezes. Ele foi de grande ajuda para o nosso grupo, sempre nos acompanhando e orientando em relação aos costumes locais dentro e fora d’agua e quanto ao melhor posicionamento no pico.
Antes de nossa viagem, Allan ministrou um programa de treinamento para o Antonio na Macumba, como parte de sua preparação para a surf trip, e também intercedeu junto ao Kayu para nos ajudar a reservar um dos quartos em um momento em que o hotel estava lotado. Em um de nossos passeios em Sunzal visitamos a casa que o Allan lá construiu. Anexo à casa montaram uma “guest house” para surfistas, ideal pra quem quer viajar e ficar por períodos mais longos sem os custos de um hotel, ou que queira ficar tranquilo num esquema de casa com segurança e privacidade.
Partir com amigos em uma surf trip internacional atrás de ondas perfeitas em praias paradisíacas deixou de ser uma exclusividade do universo masculino há muitos anos. As surf trips exclusivamente para mulheres são uma realidade que cresce a cada ano, e um grupo destes chegou ao Kayu três dias após nossa chegada. Lideradas pela Tati da Mata, Diretora Criativa da Sicrupt, uma marca de beachwear feminino, e chamada de “Barca Para Elas Sicrupt”, o grupo reunia outras 5 surfistas – Adriana Maurmo, Carol Higasi, Patricia Marins, Aninha Mendes e Tereza Terra, que assim como o nosso próprio grupo, era composto por pessoas com histórias, profissões, personalidades e níveis de surf diferentes, todas entretanto unidas pela mesma paixão – o surf. Vieram acompanhadas do Osmar Rezende, fotógrafo e cinegrafista profissional que registrou a viagem delas em fotos e vídeos. Osmar produziu o vídeo que ilustra essa sessão e gentilmente cedeu algumas imagens para o meu site.
E a mulherada, cada uma em seu ritmo e nível, se divertiu a valer! O homem por natureza é competitivo, e dois grupos no mesmo hotel surfando o mesmo pico era capaz até de dar atrito, mas como não foi este o caso convivemos em perfeita harmonia. Todas muito alto astral, como não poderia deixar de ser em uma surf trip, e facilitado pelo fato do Pastor já conhecer a Tereza, longboarder cliente e única carioca entre o grupo de maioria paulista, não tardou para os grupos se entrosarem e logo trocávamos histórias e experiências de surf. A Tati, após voltar da viagem, escreveu em um blog que “é incrível como uma surf trip proporciona em tão pouco tempo de convívio um clima de intimidade e amizade genuína. Amizades que se formam e certamente serão levadas por toda a vida“. Uma colocação perfeita, e que não se limita apenas aos integrantes do grupo, mas também às pessoas que conhecemos pelo caminho.
Em Sunzal não há muito o que fazer, fora o surf, o que não chega a ser um grande problema, uma vez que o objetivo de uma surf trip é… bem… surfar! E numa surf trip em geral acorda-se de manhã bem cedo, de preferência antes do sol nascer, surfa-se o máximo possível durante o dia e dorme-se cedo para recomeçar na madrugada seguinte. Porém, entre as seções de surf matinais e de final de dia buscamos explorar e conhecer um pouco do local.
A opção óbvia é o centrinho local, que fica a aproximadamente um quilometro do Kayu. Chamado de El Tunco seria algo equivalente à Rua das Pedras, de Búzios, só que bem menos sofisticada…o lugar, que fica em frente à praia de seixos La Bocana, tem várias lojas típicas para turistas, vendendo artigos e artesanatos da cultura local, alguns hostels e restaurantes, mas nada que nos animasse a almoçar fora do Kayu.
Para surfistas o point mais atrativo de El Tunco é a ótima loja de artigos de surf Papaya Surf Shop, com tudo que um surfista possa precisar para não atrapalhar sua surf trip.
Um detalhe curioso.. pensei ter visto umas caixas de cerveja da Brahma, só que quando cheguei perto o logotipo igualzinho ao da Brahma dizia “Brahva” (vide foto)… aí pensei, caramba copiaram a marca da Brahma! Só que depois fui pesquisar e aprendi que era de fato a versão Salvadorenha da bebida da Ambev, que se engalfinhou em uma guerra de cervejas contra os cervejeiros locais da América Central.
Certo dia o Allan e a Fabi nos chamaram para conhecer a casinha e “guest house” que construíram ali perto. O grupo de convidados incluiu também as meninas da Barca Sicrupt e um outro casal brasileiro hospedado no Kayu – o Roger e a Terena, um casal discreto e simpático que me chamou a atenção dentro d’agua pela habilidade de ambos nas ondas, tanto na pranchinha quanto no Stand-Up Paddle. Além da turma do Kayu, um outro brasileiro completou o grupo do passeio que foi o Custodio Netto, também conhecido por Todinho, amigo de muitos anos do Pastor, foi piloto da Varig, tendo pilotado no mesmo cockpit do pai do Pastor, e que estava hospedado na casa do Allan.
A casa do Allan fica em um condomínio fechado que se estende até o mar, só que não termina numa praia, e sim num fantástico conjunto de piscinas naturais, que se enchem com água do mar trazidas pelas ondas. As ondulações batem de forma dramática contra as rochas da parede externa da piscina, projetando ondas de água para dentro das piscinas e formando jatos d’agua nas frestas das rochas.
Um espetáculo bonito de se ver e divertido de vivenciar de dentro da piscina. Ficamos o final de tarde na piscina principal até o momento do belo pôr do sol Salvadorenho.
Finalizamos o passeio, e o dia, no Cadejo, restaurante da cervejaria artezanal de mesmo nome, recem inaugurado em Sunzal. O belíssimo restaurante foi uma grata surpresa, em especial aos aficionados por cerveja, já que uma das opções é o “sampler” com 6 copos de degustação de cervejas de sabores diferentes, incluindo Pielsen, Belga e Preta. Descobri depois que o restaurante Cadejo, que em espanhol significa Coiote, é rankeado pelo Trip Advisor como 3º melhor restaurante de San Salvador, de um total de 270 restaurantes avaliados… nada mal!
Mais alguns momentos dessa surf trip especial e divertida, dividida com velhos e novos amigos, em um lugar lindo e com altas ondas… this is as good as it gets!
O retorno foi tranquilo e sem sustos. Pastor, Gerson, Antonio e eu voltamos em um voo com escala em Bogotá, e o Luca voltou em outro voo com escala em Lima. Tivemos uma longa escala em Bogotá, de 4 horas, e fiquei impressionado com a qualidade do aeroporto, moderno e com muitas lojas. Aproveitamos para comprar algumas lembranças e comer um cheeseburger antes do voo para o Rio.
Enquanto isso, Luca encontrou com o Allan e a Fabi em Lima. Eles haviam decolado mais cedo, em um voo com duas escalas – México e Lima. Ao desembarcarmos no Galeão fomos recebidos pelo Augusto Pascoli, que também faz parte do nosso grupo de surf da turma do Colégio Santo Inácio e foi nos dar as boas-vindas de regresso!
“ Essa surf trip foi mágica e inesquecível! Ondas perfeitas todos os 8 dias e um grupo incrível. Sem dúvida as melhores ondas de minha vida e um desejo de voltar sempre a esse lugar mágico.
Não teria sido tão bom sem as presenças do grande mestre Pastor com suas dicas fundamentais pra melhorar a postura e aproveitar melhor a prancha e o pico, com o incentivo do incansável Gerson e sua incrível resistência, com o meu companheiro de iglu Luca (nosso quarto mantido a 18°C) e a organização e tenacidade do Terry, com a paciência e sabedoria pra esperar no pico as melhores da série. ”
Um fato curioso do transporte público de El Salvador é que aparentemente não há problema algum em socar o máximo de gente possível na caçamba de uma pickup e transportá-las em rodovias federais… inclusive senhoras e crianças de todas as idades.
Filmei essa turma aí no nosso caminho ao aeroporto. Como essa ví várias outras pickups lotadas de gente, e bem vestidas por sinal. Pelo visto não estão muito preocupados com acidentes…
Por falar em acidentes, quem surfa convive com o risco de um acidente. Em especial nas surf trips pois as condições de fundo e onda diferentes daqueles os quais o surfista está habituado conspiram para isso. Particularmente em picos de fundo de coral ou pedra, como é o caso de Sunzal. Em nosso grupo felizmente não tivemos acidentes, porém no grupo da Barca Sicrupt houve um acidente com a Aninha, que dropou para o lado errado e foi parar sobre a bancada de pedra justo quando entrava uma série. Submergiu algumas vezes, e no afã de se safar da situação bateu com o pé no fundo de pedra.
Resultado – um corte feio na região lateral posterior do pé direito, próximo ao dedão. Para sua sorte outra integrante da Barca, a Adriana, é médica e soube fazer os curativos necessários. Com isso Aninha ficou uns 3 dias de molho, e com o pé enfaixado por 15 dias. Por essas e outras todo cuidado é pouco, e deve-se sempre procurar informações sobre o pico com locais.
Pense numa pessoa que, aos 42 anos resolve aprender a surfar, consegue, e nos anos seguintes parte para surfar os principais picos de surf do planeta… pensou num homem? …errou! O nome dela é Tereza Terra, ou Tete para os amigos. Aos 55 anos Tete estava no grupo da Barca Sicrupt esbanjando simpatia e energia, e logo após voltar de El Salvador já partiu para nova surf trip no Mentawai e Ilhas Maldivas!
Tudo começou na praia de Camobinhas, em Niterói, onde mora até hoje. Tetê é casada com Carlos Sartori e tem 2 filhos gêmeos bi-vitelinos, Matheus e Lucas, todos surfistas.
Ela cansou de ficar na areia assistindo a família toda dentro d’agua e resolveu ir na escolinha de surf dos meninos pedir ao professor Ângelo Giló que a ensinasse também. E assim foi o início de tudo… de Camboinhas virou local da Macumba, e de lá já foi para El Salvador 5 vezes, Costa Rica 2 vezes, Nicarágua, Chicama e Hunchaco (Peru) e agora Mentawai e Maldivas, muitas dessas viagens com a família.
Tete então é isso, uma espécie de Maria Lenk do surf carioca, só que campeã em determinação e simpatia, conquistando amizades e admiração por onde passa… uma verdadeira inspiração e exemplo para quem acha que a idade nos limita em buscar e alcançar nossos objetivos e sonhos!
Escrever sobre esta surf trip me levou a pesquisar muitas histórias sobre meus amigos surfistas, e isso me fez lembrar de um episódio que ao mesmo tempo é tão hilário quanto icônico em relação a como o esporte evoluiu em termos de imagem e respeito.
Meu principal parceiro de surf no início dos anos 80 foi o grande amigo Marcos Bocaiuva, e nos finais de semana saíamos cedo para surfar na Prainha ou Grumari, voltando por volta de 12:30-13:00hrs, e algumas vezes ele me convidava para almoçar em sua casa. Até aí nada demais… só que o pai dele era oficial da Marinha e, bastante rigoroso, queria todos em casa para almoçar exatamente ao meio-dia!
Logicamente, quando saíamos para surfar nunca chegávamos ao meio-dia, e um dia, fulo com nosso atraso passou uma bronca no Marcos enquanto almoçávamos na cozinha. E no meio da bronca soltou a pérola “…porque para mim surfista é tudo vagabundo!!”… claro que ficamos quietinhos com as nossas caras enfiadas no prato segurando o riso.. achamos cômico até hoje, e quando nos encontramos voltamos a rir desse evento.
Finalizo a página dessa surf trip com esse vídeo do Canal OFF, que consegui com a ajuda do meu amigo Claudio Zattar, também ex-colega da Turma do Colégio Santo Inácio. Sou fã do canal e neste vídeo foram muito felizes na forma de colocar o sentimento que existe em cada um de nós, profissionais de diferentes ofícios e surfistas de alma, divididos entre dois mundos – alta performance na profissão e uma vida conectada à Natureza – e no nosso caso unidos por uma paixão – o surf.
Acredito que todo surfista, assim como eu, se identificará com esse vídeo! Obrigado por visitar minha página, espero que tenham gostado! Aloha!
Gostaria de agradecer aos fotógrafos que contribuiram com seu talento para produzir muitas das fotos dessa surf trip:
Gratidão também aos amigos que contribuíram com fotos e vídeos de seu acervo pessoal, além de informações que enriqueceram as histórias dessa surf trip:
Pastor ⚬ Luca ⚬ Antônio ⚬ Gerson ⚬ Fabi ⚬ Tati ⚬ Tete ⚬ Aninha ⚬ Carol ⚬ Adriana ⚬ Paty ⚬ Roger ⚬ Terena ⚬ Todinho ⚬ Marcos ⚬ Zattar